Estímulos sensoriais, dificuldades na comunicação e desafios na gestão do tempo são apenas alguns dos obstáculos enfrentados por universitários com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Abril é o Mês de Conscientização sobre Autismo, mas a inclusão dessas pessoas deve ocorrer o ano todo. Para isso, a UFRN oferece soluções para apoiar e auxiliar discentes com TEA.
Não é novidade que o número de universitários com TEA vem crescendo, assim como a quantidade de diagnósticos de autismo no mundo. Para Débora Nunes, professora do Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação, vinculado ao Centro de Educação (DFPE/CE) da UFRN, as duas coisas estão interligadas. “É possível apontar fatores como o avanço na conscientização pública, a ampliação do diagnóstico precoce e a implementação de políticas públicas inclusivas”, afirma a docente.
A Secretaria de Inclusão e Acessibilidade (SIA), que oferece suporte a discentes e servidores com necessidades específicas, também observa um aumento nos pedidos de apoio por parte de alunos com TEA. Em 2014, apenas cinco pessoas solicitaram assistência à Secretaria. Já em 2024, foram 101 requisições. Ao todo, nesses 11 anos, 259 pessoas pediram apoio à SIA.
A assistência da Secretaria é oferecida de maneira personalizada para atender às particularidades de cada aluno. Primeiramente, o discente solicita o apoio no Portal do Discente do Sigaa, na aba Outros > Necessidades Educacionais Específicas > Solicitar apoio à SIA. Em seguida, uma profissional da Secretaria realiza uma avaliação inicial com o estudante para identificar as necessidades educacionais, definindo as melhores estratégias a serem adotadas pelos docentes. Por fim, um documento com orientações didático-pedagógicas é submetido ao Sigaa e disponibilizado aos professores das disciplinas cursadas pelo aluno.
Helena Xavier, aluna de Psicologia e membro do Coletivo Neurodivergente da UFRN, recebe apoio da SIA desde o segundo ano do curso, tendo direito a fazer provas em ambientes separados e a receber materiais acadêmicos de maneira mais direta.
De acordo com Débora, os principais desafios enfrentados por alunos com TEA são relacionados a questões sensoriais e sociocomunicativas. “Frequentemente, esses estudantes apresentam formas particulares de processamento sensorial, o que pode acarretar dificuldades significativas no ambiente acadêmico”, explica a professora. Fatores como ruídos, iluminação intensa ou grande fluxo de pessoas podem gerar estresse. Dificuldades na comunicação e interação social, na compreensão de textos, na produção escrita, na gestão do tempo e na organização também são obstáculos.
Além disso, na leitura, pessoas com TEA enfrentam desafios com textos de linguagem figurada e abstrata, por demandarem habilidades de abstração que podem ser mais complexas para esses alunos. Para Helena, os obstáculos começam antes mesmo de chegar à UFRN, devido aos estímulos sensoriais encontrados no deslocamento até o campus. “A gente já chega na universidade muito cansado”, declara a estudante.
No entanto, o desconhecimento da comunidade acadêmica sobre estratégias de acessibilidade pode se mostrar uma barreira ainda maior. “Quando a gente pede uma adaptação, pede para desligar uma luz, pede para falar mais baixo, as pessoas, às vezes, não compreendem”, explica Helena. A graduanda salienta a necessidade da conscientização e, principalmente, de ouvir pessoas autistas sobre suas experiências. “Somos nós quem sabemos da nossa vivência, das nossas dificuldades, e como é viver num mundo sendo autista”, afirma.
Conscientização
Débora destaca o papel da SIA em acolher os alunos com TEA. “Nós, professores, sempre recebemos no SIGAA indicações de práticas a serem adotadas em sala de aula para alunos que apresentam alguma necessidade educacional específica”, explica. A Secretaria sugere métodos como ampliar o tempo para a realização de provas, criar um ambiente mais tranquilo e enviar conteúdos com antecedência.
Para Danielle Garcia, neuropsicóloga da SIA, o apoio é crucial para ampliar a visibilidade e garantir os direitos dos alunos com TEA. “Uma vez que são identificados, eles passam a ser foco das políticas e das ações da universidade”, afirma Danielle.
De acordo com Débora, a conscientização da comunidade acadêmica, principalmente de professores, e a adaptação do ambiente universitário são os melhores caminhos para atender às necessidades dos alunos com TEA. Para Helena, é essencial criar discussões acerca de como melhor incluir esse grupo, principalmente junto a estudantes neurotípicos.
“É também, por parte dos alunos, entender que a gente não é um bicho, que vocês podem chegar e conversar”, declara Helena. “Nós podemos chegar num ponto em comum, podemos dizer: ‘olha, vamos desligar essa luz, essa luz e essa não’”, completa.
Coletivo Neurodivergente
Inicialmente criado como Coletivo Autista, hoje o grupo inclui, também, pessoas com outras neurodivergências como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia e discalculia. Por meio de um grupo no WhatsApp, os membros discutem os desafios do meio acadêmico e estratégias para tornar o ambiente mais inclusivo, além de organizarem encontros presenciais.
Para participar, é necessário preencher este formulário.
Inclusão como objetivo
As ações da SIA estão de acordo com o Indicador 22 do Plano de Gestão 2023-2027 da UFRN, referente às iniciativas das Comissões Permanentes de Inclusão e Acessibilidade (CPIAs). Esse indicador integra o Objetivo Estratégico Aperfeiçoar Mecanismos Institucionais de Inclusão, firmando o compromisso da universidade com a garantia e o fortalecimento da integração de estudantes atípicos.