O O Rio Grande do Norte fechou o mês de março com saldo negativo de 1.918 empregos formais, de acordo com dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho. O principal responsável por essa retração foi o setor agropecuário, que registrou o fechamento de 2.116 vagas, especialmente nas áreas de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. A queda está relacionada ao fim da safra da fruticultura irrigada no estado, atividade que costuma gerar grande volume de contratações temporárias.
O economista Thales Penha, professor da UFRN, confirma que a retração na agricultura é natural e está associado ao fim da safra da fruticultura irrigada. Entre os municípios com maior concentração dessa produção estão Mossoró, Baraúnas e Apodi.
Entre setembro a outubro do ano passado, lembra o especialista, ocorreu uma elevação nas contratações, puxada pelo momento de safra. Isso porque, no período final do ano – além dos dois primeiros meses – acontecem as exportações de produtos como melão, melancia, manga e goiaba.
“Quando chega março, a janela internacional se fecha e as empresas demitem esses produtores justamente porque vão diminuir a quantidade produzida, ou até praticamente zerar, voltando a contratar no final de agosto ou setembro. Isso é um movimento sazonal que acontece na economia do RN. Se formos analisar, há picos de contratação em setembro e de demissões em março ”, explica Thales Penha.
No total, de acordo com o Caged, o RN registrou 20.418 admissões contra 22.336 desligamentos no estado, o que representa uma variação relativa de -0,36% no estoque de empregos formais. No acumulado de 2025, o estado manteve um leve saldo positivo de 399 empregos formais.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, reitera que a retração na agropecuária já era esperada e as contrações devem retornar entre julho e agosto. “Esse movimento da taxa de desemprego nesse período é fruto da entressafra. Como nós saímos da safra da fruticultura e da cana, então esse desligamento é um movimento normal que acontece anualmente”, comenta Vieira.
O titular da Sedec-RN, Silvio Torquato, traz uma análise semelhante. “Esse é um período neutro na agricultura, entre o plantio e a colheita. Entre janeiro e dezembro, houve o término da colheita e do movimento das exportações. Agora, há um período neutro, de março para abril, das plantações tanto de cana de açúcar quanto na fruticultura. São momentos pontuais”, esclarece.
Em relação ao saldo negativo apresentado pela indústria, com retração de 605 postos de trabalho, o secretário explica que há um aumento de contratações no verão, principalmente, nos setores alimentício e de confecção. Após esse período de alta estação, assim como no segmento da agropecuária, há uma queda nos empregos. “Não é nada que nos deixe apavorado, tá tudo dentro da normalidade. O RN tem tido um crescimento muito forte e todos os setores estão crescendo”, completa o secretário.
De acordo com a Federação das Indústrias do RN (Fiern), o desempenho industrial negativo foi influenciado por dois segmentos: a produção de derivados de petróleo (-286 empregos formais) e a fabricação e refino de açúcar (-434).
“Este comportamento está diretamente associado à queda na atividade produtiva observada nos últimos meses. De acordo com os dados mais recentes da Pesquisa Industrial Mensal, referentes a fevereiro de 2025, a produção industrial do RN apresentou retração de -29,8% em relação ao mesmo mês de 2024 e de -23,6% na comparação com janeiro de 2025. Essa redução no volume de produção impacta diretamente a demanda por mão de obra, justificando o desempenho negativo do setor no Novo Caged”, explicou a Fiern em relação ao desempenho na produção de derivados de petróleo.
Quanto à queda no setor de fabricação e refino de açúcar, a federação disse que “este é um comportamento sazonal esperado, recorrente no período, que afeta não apenas o setor sucroenergético, mas também diversas atividades agroindustriais e agropecuárias, reduzindo temporariamente o nível de ocupação”.
Para abril, a expectativa da Fiern é de melhora no saldo de empregos. “Tradicionalmente, após a retração verificada em março, ocorre uma recuperação gradual nas admissões, superando os desligamentos em alguns segmentos”, comentou a Fiern.