Nascida em Assú, entre a elite de uma sociedade patriarcal e restrita, Maria Carolina Wanderley Caldas (1876-1954) fez a diferença ao dedicar sua vida à arte e à educação. Essa história ainda pouco conhecida dos potiguares, ganha a evidência merecida com o livro “A professora da aldeia – Uma biografia de Sinhazinha Wanderley” (Z Editora), de Pedro Octavio de Oliveira, que será lançado no dia 31 (quinta), às 17h, no Instituto Histórico e Geográfico do RN. A obra celebra a vida de uma musicista, poeta e professora que se dedicou a educar gerações.
A figura de Sinhazinha Wanderley sempre despertou a curiosidade de Pedro Octavio, que já havia escrito anteriormente sobre a primeira escola privada de Assu. “Até que eu encontrei uma professora assuense cuja tese de doutorado tinha sido sobre a Sinhazinha, e ela me doou bastante material relacionado a isso. Foi o que me encorajou a começar o livro”, conta o autor, que aprofundou sua pesquisa rastreando as passagens da professora por jornais e instituições da época.
O biógrafo explica que a trajetória de Maria Carolina Wanderley seguiu por rumos inesperados para uma mulher de sua época. Sinhazinha era filha do Dr. Luís Carlos Wanderley, o primeiro médico diplomado nascido no estado. A mãe morreu quando ela tinha apenas um ano e três meses, sendo depois adotada e criada pelos tios. Ela cresceu distante da nova família do pai e de seus irmãos. O pai adotivo era professor de latim, o que a fez ter uma educação esmerada desde cedo.
Para ter seu sustento, Sinhazinha passou a dar aulas em casa, onde criou o Externato São José, atendendo crianças de ambos os sexos e de variadas classes sociais. Até que em 1911 foi criado em Assu o Grupo Escolar Tenente Coronel José Correia, e Maria Carolina foi convidada para ser professora e regente das classes. Ela permaneceu na instituição até 1950. Como docente, Sinhazinha inovou ao realizar aulas de campo, tirando os alunos da sala de aula para vivenciar ensinamentos ao ar livre.
Na sala de aula, a professora também introduzia seus alunos à literatura e ao teatro. As suas práticas pedagógicas incluíam montagens de peças teatrais no encerramento do primeiro ano letivo. Os alunos apresentavam as dramatizações escritas por ela, e recebiam aplausos de toda cidade. “Sinhazinha construiu para si o perfil de uma pessoa inovadora e moderna”, ressalta Octavio.
Já na vida intelectual, Sinhazinha Wanderley se incorporou facilmente à grande cena de poesia que havia em Assu no início do século XX. Ela já estava entre os nomes de uma antologia de poetas potiguares lançadas em 1922. “Apesar de ser inovadora na educação, ela foi formal na poesia”, ressalta o escritor.
A professora poeta também colaborava para vários jornais e revistas da época, como a Paladio (1915), Polianteia (1939), Atualidades (1950), e um dos mais conhecidos, a Via Láctea (1914), uma revista feminina tocada por Palmira e Carolina Wanderley – suas sobrinhas. Aliás, a assinatura Sinhazinha Wanderley surgiu nessa ocasião, um diferencial para não confundi-la com a sobrinha do mesmo nome.
Segundo Pedro Octavio, Maria Carolina Wanderley se manteve distante dos holofotes que sua ilustre família possuía no estado. Nunca casou, mas adotou três crianças e costumava ajudar quem precisava. Sobre a relação com a família, escreveu: “Sem pais, sem um irmão que me auxilie na trajetória da vida, sem tios e sem padrinhos, sou, no dizer do poeta, ‘uma andorinha sob a geada’ e assim vivo aos escarcéus da sorte”.
Serviço:
Lançamento de “A professora da aldeia”, de Pedro Octavio de Oliveira. Dia 31 (quinta), às 17h, no IHGRN, Cidade Alta. Pré-vendas pelo (84) 99891-9240.