O relatório apresentado pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira revela novos trechos até então incompreensíveis da conversa travada entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, dono da JBS, no subsolo do Palácio do Jaburu. A transcrição do diálogo mostra que Temer questiona Joesley sobre Eduardo Cunha. Também revela que o presidente alertou sobre obstrução à Justiça.
No encontro, Joesley disse a Temer que não podia encontrar com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, próximo a Temer, porque ele passou a ser investigado. Segundo as frases reveladas pelo relatório, Temer alerta que poderia “parecer obstrução de Justiça” e a situação era “perigosíssima”.
Na sequência, Joesley fala que está “de bem com o Eduardo”, que seria, segundo os investigadores, o ex-deputado Eduardo Cunha. Temer responde, então, “tem que manter isso, viu?”, e ouviu Joesley dizer: “todo mês”. A frase havia sido interpretada pelo perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, como “todo meio”. O relatório da PF mostra que o presidente questionou Joesley em seguida: “O Eduardo também, né?” E o empresário confirmou: “Também”.
O encontro não foi registrado na agenda oficial de Temer, e Joesley não passou por procedimentos de segurança na entrada da residência do presidente.
Leia a seguir a transcrição de parte do diáliogo.
Joesley: Como é que tá, como é que o senhor tá nessa situação toda aí, Eduardo, num sei o quê, Lava-Jato…
Temer: O Eduardo resolveu me fustigar, né? Você viu que…
Joesley: Eu não sei. Como é que tá essa relação?
Temer: Não, tá… Ele veio (ininteligível)… Tem nada a ver com a defesa (ininteligível). Moro indeferiu vinte e uma perguntas dele que não tinha nada a ver com a defesa dele.
Joesley: Hum, pois é.
Temer: Era pra me entrudar. Eu não fiz nada. E no Supremo Tribunal Federal (ininteligível)
Joesley: Eu queria falar assim, como tá aqui na (ininteligível). Fiz o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha de alguma pendencia daqui pra ali zerou, tal…
Temer: (Ininteligível) tudo.
Joesley: (Ininteligível) Liquidou tudo e ele foi firme em cima, ele já tava la, veio, cobrou, tal, tal, tal, eu, (ininteligível) pronto. Acelerei o passo e…
Temer: É…
Joesley: Tirei da frente. O outro menino, companheiro dele que tá aqui, né?
Temer: (lninteligivel).
Joesley: Que… Que tá aí, que o Geddel sempre tava…
Temer: O Lúcio tá aí?
Joesley: (lninteligível) Não, não (ininteligível)
Temer: (Ininteligivel).
Joesley: Isso, isso …
Temer: (Ininteligivel).
Joesley: Geddel é que andava sempre ali.
Temer: (Ininteligivel)
Joesley: Mas com o Geddel tam bém com esse negócio eu perdi o contato porque ele virou investigado. Agora eu não posso também…
Temer: É complicado, é complicado.
Joesley: Eu não posso encontrar ele.
Temer: É porque (inaudível) parecer obstrução de Justiça, viu?
Joesley: Isso, isso, isso, isso.
Temer: Perigosíssima essa situação.
Joesley: Negócio dos vazamento (sic)…
Joesley: O telefone lá do Eduardo, com Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o quê… Eu tô lá me defendendo. Como é que eu … O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô… Tô de bem com o Eduardo.
Temer: Muito bem.
Joesley: É…
Temer: Tem que manter isso, viu? (ininteligível)
Joesley: (ininteligível) Todo mês…
Temer: O Eduardo também, né?
Joesley: Também.
Temer: É…
Joesley: Eu tô segurando as pontas, tô indo.
Joesley: É.