FHC condena condução coercitiva de funcionários da UFMG

Fernando Henrique Cardoso

O repúdio à condução coercitiva de oito pessoas ligadas à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), incluindo o reitor Jaime Ramírez e a vice-reitora Sandra Goulart de Almeida, durante a operação “Esperança Equilibrista” da Polícia Federal (PF), ganhou mais um expoente nesta sexta-feira (8). Em uma publicação no Facebook, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) reprovou a medida adotada pela corporação e a comparou com os excessos cometidos pelos militares durante a ditadura.

“Ultimamente medidas coercitivas cautelares têm sido tomadas contra funcionários de universidades sem que se saiba com clareza quais são as acusações, sem que se veja a necessidade de coerção, sem que as pessoas envolvidas se tenham negado a depor e/ou tenham poder para atrapalhar as investigações”, afirma FHC. “Para quem, como eu, foi vítima do arbítrio no período ditatorial, sinais de excesso são condenáveis e exigem esclarecimentos”, completa.

Em sua crítica, o ex-presidente ainda lembrou que em setembro deste ano, em Florianópolis, quando a PF deflagrou a operação “Ouvidos Moucos” para investigar um suposto esquema de desvio de recursos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo foi afastado da instituição por determinação judicial. Um mês depois, ele cometeu suicídio em um shopping da cidade. Em um artigo publicado no jornal “O Globo”, dias antes de sua morte, o diretor falou sobre a “fragilidade das acusações” e que passou “humilhação e vexame” por causa da ação policial. As informações são de O Tempo/Minas Gerais.

“Tal já ocorrera com o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que se suicidou e cuja culpabilidade não foi mostrada ao público. Agora, são os professores da UFMG os atingidos”, lamenta.

A operação “Esperança Equilibrista” apura supostas irregularidades na construção e implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil, no bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Conforme a PF, teriam sido empenhados cerca de R$ 19 milhões na construção da estrutura e em pesquisas para a exposição do museu, idealizado em 2008.

Entretanto, segundo a PF, R$ 4 milhões foram desviados por meio do pagamento de bolsas de estágio e de extensão. Além disso, o órgão sustenta que foi constatado que o único produto aparente do projeto é um dos prédios, ainda inacabado.

Nessa quinta-feira (7), o Conselho Universitário da UFMG – órgão deliberativo máximo da instituição  – publicou uma nota de repúdio à ação da PF. O texto diz que a condução coercitiva foi uma “espetacularização midiática” que trouxe consequências “incalculáveis” para a “honra, imagem e saúde mental” dos gestores e servidores da universidade.

“A condução coercitiva sem prévia intimação é prática sem respaldo jurídico e, além de vulnerar a ampla defesa, a dignidade da pessoa humana e a presunção de inocência, caracteriza constrangimento ilegal”, salienta a nota.

Membros da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT) e do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino (Sindifes) também se manifestaram contra as ações da PF e afirmaram que a operação teve viés político, em represália ao posicionamento da UFMG contra as reformas do governo federal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.