Após a confirmação unânime de sua condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), seu berço político, e seguiu para a capital paulista para participar de uma grande mobilização em sua defesa na praça da República. Uma multidão recebeu o petista, que trocou a camisa vermelha que vestiu para acompanhar o julgamento por uma preta.
No palco ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, Lula disse que respeita a decisão dos desembargadores, mas não respeita “a mentira pela qual eles tomaram a decisão”. “Eles sabem que eu não cometi um crime. Eu me disporia a ficar com os três juízes um dia inteiro para que eles me mostrem qual é o crime que o Lula cometeu”, discursou.
“Não estou preocupado se vou ser candidato a presidente ou não. Quero que peçam desculpas pela quantidade de mentiras que colocaram sobre mim”, disse, completando que não tinha ilusão de que seria absolvido. “Depois da decisão do tribunal, sinto que as pessoas vêm me cumprimentar como se eu estivesse sofrendo: ‘Força Lula’. Eu nunca tive nenhuma ilusão com a decisão do tribunal. Nunca tive nenhuma ilusão com o comportamento dos juízes na questão da Lava Jato”, disse Lula. As informações são de O Tempo/Minas
O petista preferiu não acompanhar a íntegra do julgamento: deixou de assistir à sessão antes da conclusão do primeiro voto, proferido pouco antes das 14h pelo desembargador João Pedro Gebran Neto, e aproveitou para conversar com amigos.
Em nota, Dilma chamou de “absurda, injusta e facciosa” a sentença de condenação. “A consciência da razão jurídica e a convicção da razão histórica são motivos fortes para que a luta continue”, escreveu. “Vamos lutar em todas as instâncias do Judiciário pelo direito do ex-presidente Lula ser candidato. Mas vamos lutar por Lula e pela democracia em todos os recantos, nas ruas, na cidades e no campo do nosso Brasil”, afirmou.
O PT também divulgou nota afirmando que os votos que condenaram Lula foram “claramente combinados” em uma “farsa judicial”. “O resultado do julgamento do recurso da defesa de Lula, no TRF-4, com “votos claramente combinados” dos três desembargadores, configura uma farsa judicial”, diz a nota assinada por Gleisi.
Ela reafirmou a candidatura de Lula à Presidência neste ano e disse que os petistas não vão aceitar passivamente que “a democracia e a vontade da maioria sejam, mais uma vez, desrespeitadas”. Ao lado de Lula na praça da República, a senadora conclamou que as pessoas pendurem bandeiras vermelhas e do Brasil nas janelas. “A bandeira do Brasil não é dos coxinhas”, afirmou.
Tese de golpe
Programas. Lula disse que programas de seu governo como Fies e Prouni estão reduzindo: “Quem está no banco do réu é o Lula, mas quem foi condenado é o povo brasileiro com o golpe que eles deram”.
Defesa tentará impugnar decisão
O advogado Cristiano Zanin, que lidera a equipe de defesa do ex-presidente Lula, garantiu na quarta-feira (24) que vai tomar todas as medidas legalmente cabíveis para tentar reverter a decisão da turma de desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que condenou o petista a 12 anos e um mês de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do apartamento triplex do Guarujá.
“Vamos esperar a publicação do acórdão, vamos analisar e tomar as medidas legalmente cabíveis, com a expectativa de reverter a decisão, mostrando incongruências presentes nos votos apresentados e que não afastaram a garantia da presunção de inocência, a garantia só pode ser afastada através de exame racional que mostre provas da prática de um crime, o que não aconteceu hoje”, disse o advogado de Lula.
Segundo Zanin, o julgamento no TRF-4 não impede Lula de registrar sua candidatura a presidente na Justiça Eleitoral.
“Se ele decidir ser candidato, a decisão de hoje do TRF-4 não representa qualquer obstáculo para implementar a decisão de candidatura”, afirmou Zanin. “Nós vamos discutir isso na Justiça Eleitoral se houver uma impugnação da candidatura”, acrescentou o defensor do ex-presidente, lembrando que é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que valida os nomes que disputarão o pleito.
Exagero
Análise. José Roberto Batochio, outro advogado de Lula, afirmou que é um “exagero” falar em prisão, e que ministros do STF têm sido contrários à prisão após a segunda instância.
