Maia critica Meirelles e pede recomposição da base para votar reforma

Mateus Bonomi/Folhapress - 15/12/2017

Em visita oficial a Nova York, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, se mostrou cético em relação à possibilidade de votação da reforma da Previdência no mês que vem. Maia se encontrou no fim deste domingo com jornalistas americanos, na sede da missão do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), para tratar da agenda econômica do país.

Na segunda-feira (15) pela manhã, ele se reunirá com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o tema do encontro será a crise dos refugiados venezuelanos na região Norte do Brasil. Perguntado pelo Valor o que diria à imprensa local sobre o calendário das reformas no Congresso, o deputado do Democratas do Rio de Janeiro foi direto:

“Sempre fui muito realista. O governo saiu de uma base de 316 deputados no fim de 2016 para terminar, após a segunda denúncia contra o presidente Temer, com 250. É preciso recompor cerca de 70, 80 votos. A decisão do governo, depois da primeira denúncia, foi a de afastar quem não votasse a favor do presidente. Isso abriu um problema: como se faz agora para conquistar 308 votos? A reforma é urgente, precisa ser aprovada, mas para isso é preciso reconstruir a base do governo tal como era para se ir ao plenário”, respondeu ele. As informações são de Eduardo Graça – Valor Econômico.

Maia afirmou ainda ter ciência de que muitos deputados, em ano eleitoral, se não tiverem muita clareza de que há uma base sólida para a aprovação da reforma, simplesmente se absterão de ir ao plenário no dia da votação.

“Não vai ser fácil. Precisamos de muito diálogo e de envolver mais os governadores na questão, afinal, eles serão diretamente beneficiados. Este ano, cinco Estados não conseguiram pagar o décimo terceiro salário do funcionalismo, e este número aumentará no ano que vem se a reforma não for aprovada. E não adianta vir tentar negociar soluções para fluxo de caixa a curto prazo, temos de reestruturar as contas públicas brasileiras já”, afirmou Maia.

Sobre o estranhamento entre ele e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também pré-candidato à sucessão presidencial, em torno do rebaixamento da nota de risco do Brasil pela S&P, Maia disse “não misturar as coisas”.

“Não posso aceitar que o Congresso seja responsabilizado sobre esta questão. O Congresso votou matérias que todos consideravam praticamente impossíveis, como a reforma trabalhista. O governo encaminhou uma reforma tímida, com apenas cinco artigos, nós mudamos pelo menos cem artigos. Nós estamos colaborando muito com a agenda de reformas da economia brasileira, com a terceirização, com o projeto do pré-sal, com a recuperação fiscal dos Estados. Não pode uma parte do governo transferir para o Congresso uma responsabilidade que não é nossa. Em julho, a gente aprovaria a reforma da Previdência, o que não é justo e não é bom para a reforma esse jogo de que não sou culpado, você não é culpado, porque todos estamos com o mesmo objetivo, que é reformar o Estado brasileiro. O que não pode é em cima disso alguns tentarem obter benefício próprio”, atacou Maia.

O discurso de candidato, embora oficialmente negue a pré-candidatura, se reflete no roteiro da viagem internacional. De Nova York, Maia parte para Washington, onde se encontra com congressistas americanos, participa de um debate fechado na Câmara de Comercio Brasil-EUA e dá uma palestra no Wilson Center. Depois, no México, participa da Conferência Latino-Americana do banco Santander. Mas Maia disse que “não está pensando em eleição” e que “esta agenda já estava decidida desde o ano passado”.

O presidente da Câmara, no entanto, não titubeou em tratar de eventuais adversários na disputa pelo Planalto. Sobre o colega de bancada Jair Bolsonaro (PSC-RJ), disse não acreditar que ele vença a eleição. Para o ex-presidente Lula (PT) disse considerar melhor para o processo democrático que ele possa disputar as eleições.

“Mas se estivesse preocupado com eleição estaria ouvindo o conselho de meus amigos e não manteria a votação da reforma da Previdência para fevereiro. Sobre Bolsonaro, critico as posições extremistas dele, mas nunca vi nenhuma atitude concreta dele de desrespeito ao uso do dinheiro público. E sobre o ex-presidente Lula, quem decide, claro, é a Justiça, mas acho que seria importante ele poder disputar as eleições, até para acabarmos com esta tese de que ele é imbatível, e mostrar que o legado de suas administrações não foi nenhuma maravilha para o Brasil”, disse.

Questionado se defender o legado do governo Temer não seria um complicador em uma eventual candidatura sua ao Planalto, Maia disse ter uma agenda convergente com a do atual governo, mas lembrou que não faz parte do gabinete ministerial do MDB. “O que acreditar estar errado, vou criticar. Não sou ministro do governo, não tenho a obrigação de defendê-lo 100%. Mas o governo Temer pegou o Brasil quebrado, em uma situação de calamidade fiscal e está reorganizando o país em sua parte econômica. Em outras áreas eu acho que poderia estar indo muito melhor”, afirmou Maia.

A comitiva da visita oficial da Câmara nos Estados Unidos conta ainda com os seguintes deputados: Heráclito Fortes (PSB-PI), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Fernando Monteiro (PP-PE).

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