Ninguém está acima da lei, diz Moro em discurso de formatura nos EUA

juiz sergio moro em toga azul

Em discurso na cerimônia de formatura da Universidade de Notre Dame, nos EUA, o juiz federal Sergio Moro afirmou neste domingo (20) que “ninguém está acima da lei”, e que esse deve ser um princípio para a estabilidade da democracia no Brasil.

“O alicerce de nações democráticas é o Estado de Direito, o que significa que todos têm direito à igual proteção da lei. Isso quer dizer que é preciso proteger os mais vulneráveis, mas também que ninguém está acima da lei”, declarou.

Moro foi o principal orador da cerimônia de formatura da Universidade de Notre Dame, instituição católica fundada em 1842 e sediada no estado de Indiana, que reúne cerca de 12 mil alunos.

A função já foi ocupada por ex-presidentes dos Estados Unidos como Barack Obama, George W. Bush e Ronald Reagan, entre outras autoridades. Estelita Hass Carazzai – Folha de São Paulo.

O magistrado brasileiro afirmou que o trabalho na Operação Lava Jato —que condenou, segundo ele, “ex-governadores, congressistas, um ex-presidente da Câmara e até um ex-presidente”— não tem sido fácil, e citou “ameaças, riscos e tentativas de difamação”.

“Alguns criminosos não querem mudar o status quo da corrupção e da impunidade. E eles são muitos, e poderosos”, declarou, sem entrar em detalhes sobre as ameaças.

Antes, o presidente da universidade, John Jenkins, afirmara que Moro atua sob “grande risco pessoal para si e para sua família”.

Este foi o último compromisso de Moro nos Estados Unidos, em sua terceira visita ao país neste ano –nesta semana, ele também foi homenageado por empresários em Nova York, onde foi fotografado ao lado do ex-prefeito de São Paulo João Doria, e foi alvo de protestos de partidários do ex-presidente Lula, que o chamaram de “juiz partidário” e “salafrário”.

Em Notre Dame, o magistrado foi escolhido como orador por ser “um claro exemplo de alguém que vivencia os valores” que devem inspirar os formandos, segundo o presidente da universidade, John Jenkins —entre eles, a luta pela justiça “sem medo ou favor”.

MUNDO PEQUENO

No discurso, o brasileiro afirmou que, ao refletir sobre o convite, concluiu que “esse é realmente um mundo pequeno”, e disse ter sido influenciado pelo trabalho de outros, como o juiz italiano Giovanni Falcone, que condenou líderes da máfia da Sicília, e as leis de combate à corrupção nos Estados Unidos.

O juiz afirmou que não sabe o que irá acontecer ao Brasil no futuro, e que “pode haver retrocessos”. “Mas eu acredito que ao menos nos demos uma chance de sermos um país melhor”, disse. “Lutar pela integridade na vida pública é uma causa que vale a pena.”

Cerca de 21 mil pessoas estiveram no evento, segundo a universidade.

Moro não enfrentou protestos em Indiana, ao contrário. Foi aplaudido de pé, ao final de seu discurso de pouco mais de 20 minutos.

Entre o público presente no estádio da universidade, um brasileiro carregava uma cartolina com a frase: “Eu moro aqui, mas sou Moro no Brasil”.

Ao final do discurso, o brasileiro deu quatro conselhos aos recém-graduados: nunca desistir de lutar por uma boa causa; saber que, se a luta for justa, você nunca estará sozinho; lembrar que seu comportamento pode inspirar outros; e não se render ao mal da corrupção ou da desesperança.

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