A Polícia Federal (PF) encontrou o que considera ser a primeira prova financeira que liga o coronel João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temere apontado como seu operador, à empresa Rodrimar, que atua no porto de Santos e é investigada por ter, supostamente, sido favorecida na edição de um decreto presidencial em troca de pagamentos ao emedebista.
Segundo a investigação, que tem Temer como principal alvo, o funcionário do coronel Lima, Almir Martins era também o responsável por um contrato que a Rodrimar mantinha com o braço de uma offshore do Uruguai no Brasil, a Eliland. A informação foi publicada nesta quinta-feira pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmada pelo GLOBO.
A hipótese da PF é a de que Martins seria um laranja do coronel. Contador da Argeplan, empresa de Lima, ele foi o responsável por assinar as contas da campanha de Temer à deputado federal em 1994, conforme revelou O GLOBO em abril. Ele também atuou como contador nas campanhas de Temer de 1998, 2002 e 2006.
Em depoimento aos investigadores em 18 de maio, Martins disse que se tornou gerente da Eliland para administrar apenas o contrato da Rodrimar. A empresa atua no porto de Santos, conhecido como reduto de influência política de Temer. “[Almir] se recorda de um contrato firmado entre a Eliland e a Rodrimar, não se recordando o objeto nem os valores envolvidos em tal contrato, mas se lembrando que tais pagamentos ocorreram até o ano de 2010. Que a Eliland somente possuía contrato com a empresa Rodrimar”, relata o depoimento.
Ele disse ainda que os foi colocado da Eliland em meados dos anos 2000 a pedido de um diretor da Argeplan, José Aparecido da Silva. Silva já foi apontado em relatórios da operação Patmos, deflagrada em 2017 a partir da delação da JBS, como outro possível laranja de Lima. “Que Silva pediu para colocar o declarante como gerente-delegado em função da necessidade legal da empresa possuir um representante sediado no Brasil”, declarou Almir Martins à PF.
Segundo o contator, a representante da offshore uruguaia no Brasil tinha o objetivo de intermediação de negócios, no entanto, ele não soube delimitar sua abrangência.
O delegado também questionou Martins sobre outra offshore sediada no Uruguai, a Langley, que também tinha o sócio da Argeplan, Aparecido da Silva, como procurador. Silma morreu em 2014. O contador respondeu que não tinha conhecimento sobre o assunto. Em 1995, o coronel Lima usou a Langley para adquirir um imóvel.
Martins foi um dos alvos da Operação Skala, que mirou empresários ligados a Temer a amigos dele, como o coronel Lima, que chegou a ser preso. Na época, ele foi convocado a depor na condição de contador da Argeplan, empresa de arquitetura do coronel.
Na avaliação dos investigadores, há indícios fortes de decreto dos portos, assinado por Temer no ano passado, beneficiou empresas do porto de Santos, como a Rodrimar, em troca de pagamento ao peemedebista. Há cerca de um mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) atendeu o pedido da PF e prorrogou o tempo de investigação do inquérito dos portos por mais 60 dias.