Um ano após ser alçado ao Planalto na esteira da indignação provocada pelas revelações da Lava-Jato, o presidente Michel Temer tem 30% de sua equipe ministerial envolvida em acusações de envolvimento no esquema. Ele mesmo só não é investigado porque a lei não permite que seja processado por fatos que ocorreram antes de seu governo.
Com pouco mais de um mês de mandato, Temer já tinha perdido três ministros devido à Lava-Jato. Sob pressão, decidiu que só passaria a afastar quem fosse formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República, em uma tentativa de evitar uma sangria ainda maior.
A medida permite que dois ministros intimamente ligados ao presidente, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), investigados sob a suspeita de atuar para receber R$ 10 milhões da Odebrecht em troca de benefícios à empresa, continuem no governo. Ainda assegura a presença na Esplanada de um time expressivo de investigados: os ministros Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Blairo Maggi (Agricultura), Bruno Araújo (Cidades), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), Hélder Barbalho (Integração Nacional) e Marcos Pereira (Índustria e Comércio). As informações são do jornalista
No início do ano, o presidente se envolveu em uma polêmica ao dar status de ministro a Moreira, dias depois de ele ter sido apontado em delações. A manobra lhe deu foro privilegiado, que foi mantido por decisão do STF.
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia reconhece que a presença de tantos investigados no primeiro escalão não é o desejado pela sociedade.
– Desde a constituição do ministério já manifestei que acho não ser conveniente para o Brasil, notadamente neste momento, ter pessoas investigadas compondo o ministério, porque o Brasil precisa de um novo encaminhamento. A OAB está acompanhando todas essas denúncias e, sem fazer juízo de mérito pelo afastamento ou não, vê com muita preocupação todos os fatos que estão sendo denunciados – diz Lamachia.
O caso mais rumoroso que envolve Temer é a participação em reunião com Marcelo Odebrecht na qual as doações ao PMDB foram discutidas, mas há contradição sobre a presença do presidente no debate sobre a divisão do dinheiro. A outra acusação é de que teria participado de uma reunião com Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves sobre contribuições ao PMDB derivadas de um contrato na Petrobras. Temer nega ter tratado de dinheiro.